Surgiu uma nova classe média entre 2003 e 2010 no Brasil? Distintas interpretações teóricas sobre o período

Abstract

O objetivo neste artigo é cotejar o debate em torno da formação de uma nova classe média no Brasil entre 2003 e 2010 à luz das interpretações de alguns pensadores brasileiros contemporâneos. A temática tem sido campo fértil para controvérsias acadêmicas, reverberando em um debate de poucas convergências. Com base na seleção de interpretações de pesquisadores nacionais específicos acerca do assunto – Marcelo Neri, Amaury Souza e Bolívar Lamounier, Marcio Pochmann, Marilena Chauí e Jessé Souza – este estudo está estruturado em duas seções: i) análise da formação da classe média tradicional na estrutura socioeconômica do Brasil, mostrando sua constituição à luz do sistema capitalista brasileiro; ii) contraste entre diferentes visões das autorias que norteiam esta pesquisa, examinando criticamente as mudanças que concorreram para o aumento da classe C e até que ponto houve um processo de medianização na estrutura socioeconômica. Conclui-se que o tema permite distintas leituras, todas legítimas como exercício intelectual, inclusive abordada via ângulos teóricos distintos. Certo é que no presente não há como sustentar a tese da medianização, já que o aumento do nível de consumo e a mobilidade social verificada entre 2003 e 2010 não se consolidou nos anos seguintes. A retórica da ascensão de uma nova classe média é questionável e, naquele período, ganhou caráter propagandístico. O que ocorreu foi maior dinâmica na estrutura socioeconômica, sobretudo na base da pirâmide social que se notabilizou pela recomposição momentânea da classe trabalhadora em novas bases de consumo.